Conforme Oliveira (1991), de um modo geral, todas as técnicas de análise e avaliação de riscos passam antes da fase principal por uma fase de identificação de perigos.
Mas o que é perigo? Segundo Cardella (2009), perigo é a qualidade daquilo que pode causar danos. Logo, identificar perigos significa, em termos práticos, identificar as seguintes situações ou eventos perigosos:
• substâncias;
• agentes;
• produtos;
• situações;
• eventos (perigosos ou danosos);
• operações.
A escolha do tipo de perigo depende do método adotado e dos objetivos do estudo, mas a análise dos riscos associados sempre requer a identificação de eventos perigosos, pois a eles podemos associar frequências e consequências (Cardella, (2009). A identificação de eventos perigosos se baseia na determinação de agentes com potencial agressivo.
Os conceitos de segurança tradicionais tinham por objetivo maior a identificação dos perigos sem, no entanto, dar muita ênfase à continuidade do programa, isto é, sem efetuar as fases de análise e avaliação de riscos.
Uma visão mais moderna para a identificação de perigos inclui a utilização das técnicas What If...? (E se...?) e a Técnica de Incidentes Críticos (TIC), a serem vistas na sequência.
WHAT IF...? (E SE...?)
É uma técnica de identificação de perigos e análise de riscos que se baseia em suposições expressas através da pergunta “E se...?” ou “O que aconteceria se...?”. Esta técnica pode ser implementada para um sistema, processo, equipamento ou mesmo evento. O foco da análise é “tudo que pode acontecer de errado”. O método What If é bastante amplo por permitir questionamentos livres de diversos graus de complexidade.
O MÉTODO WHAT IF
Segundo Cardella, a técnica What If admite tanto o questionamento livre quanto o sistemático. No questionamento livre, o objeto é questionado por meio da pergunta “E se...?” em relação a qualquer aspecto que se julgar conveniente ou que vier à mente no momento. Assim, teremos perguntas do tipo: E se for colocado mais um produto? E se a matéria-prima estiver contaminada? E se ocorrer um vendaval? No questionamento sistemático, o objeto é focalizado do ponto de visão de diversos especialistas como, por exemplo, nas áreas de eletricidade, instrumentação, combate a incêndio, preservação ambiental e Medicina Ocupacional. Fazem-se reuniões específicas onde a pergunta “E se...?” é aplicada a cada especialidade.
VANTAGENS E DESVANTAGENS
As principais vantagens são:
• tempo reduzido;
• fácil adequação;
• possibilidade de identificação de situações novas;
• fácil aplicação.
Desvantagens:
• requer experiência e conhecimento do processo;
• não tem apresentação sistemática;
• depende do nível de variedade de pessoas integradas;
• menos eficaz.
TÉCNICAS COMPLEMENTARES
Podem ser utilizadas as técnicas de Análise por Árvore de Falhas, Série de Riscos, Análise de Consequências ou outras que permitam a análise mais aprofundada dos eventos detectados pelo What If.
FORMULÁRIO
O formulário da análise What If consiste em, basicamente, relacionar os possíveis problemas (aquilo que pode sair de errado) com suas respectivas consequências e as devidas recomendações (medidas de controle de riscos e de emergência).
A seguir é apresentado um formulário What If hipotético empregado para uma festa de aniversário.
QUADRO 6 – EXEMPLO DE UM FORMULÁRIO DE WHAT IF (E SE...?)
FONTE: Cardella (2009 p.145)
TÉCNICA DO INCIDENTE CRÍTICO - TIC
A Técnica do Incidente Crítico (Incident Recall) consiste na identificação e análise qualitativa de perigos relacionados a quase-acidentes, incidentes ou acidentes de pequena gravidade. A TIC é aplicada a sistemas e instalações em fase operacional com o objetivo de analisar eventos, condições das instalações, atitudes ou comportamentos e relação entre pessoas, equipamentos e instalações. (CARDELLA, 2009)
MODO DE APLICAÇÃO
A técnica se baseia na entrevista de trabalhadores de determinada seção ou sistema para a obtenção de relatos referentes a situações que quase produziram acidentes ou ainda, a manifestação de algum fator de risco relacionado a comportamentos ou atitudes de outros funcionários.
Para a entrevista, é importante realizar a seleção de funcionários de diversos setores da empresa de forma a contemplar diferentes operações e, por consequência, categorias de risco.
É importante que, na aplicação periódica da técnica, se efetue a reciclagem dos participantes a fim de se detectar novas situações de perigo, bem como verificar a eficácia das medidas já implementadas.
TÉCNICAS AUXILIARES
O sucesso de aplicação da TIC depende fundamentalmente da qualidade dos dados obtidos nas entrevistas, de forma que é necessário o desenvolvimento de técnicas de relacionamento interpessoal para que se conquiste a confiança do entrevistado. Pode-se contar com o apoio de um setor de atendimento psicológico para esta tarefa.
TÉCNICAS COMPLEMENTARES
Segundo Cardella (2009), utiliza-se da técnica da Inspeção Planejada para a verificação das condições inseguras identificadas pela TIC.
LISTA DE VERIFICAÇÃO - CHECKLIST
A técnica de Checklist, ou também conhecida por Lista de Verificação, é um método que aborda o objeto em estudo e verifica a conformidade de seus atributos com padrões. Segundo Cardella (2009), o objeto do Checklist pode ser área, sistema, instalação, processo ou equipamento. A lista pode ser subdividida por especialidades de trabalho ou qualquer outra que se julgar conveniente. O foco são desvios em relação aos padrões da lista. Quando os atributos são funções ou desempenho de funções, a lista é constituída de testes e respectivas respostas-padrão.
A Lista de Verificação é utilizada com eficácia em trabalhos repetitivos cujos riscos são conhecidos e os padrões bem estabelecidos. Esta técnica é utilizada como complemente para o controle de riscos identificados e analisados por outras técnicas, como APR, Hazop e AAF. (CARDELLA, 2009)
Resumidamente, a Lista de Verificação apresenta as seguintes características:
• consiste, basicamente, na comparação dos atributos do objeto com os padrões da lista;
• é uma técnica baseada em experiência;
• o analista precisa selecionar a lista de verificações apropriada;
• se indisponível, deve adequar o Checklist existente (experiência-cuidado);
• o analista deve estar familiarizado com o processo.
VANTAGENS E DESVANTAGENS
Como vantagens podem-se citar:
• fácil utilização;
• aplicável por pessoas menos experientes (depois de desenvolvido);
• eficiência nos itens abordados;
• requer pouco tempo para a aplicação.
As principais desvantagens da Lista de Verificação são:
• fácil desatualização;
• aplicação restrita aos itens abordados;
• limitação durante a identificação (foco centrado);
• a preparação das listas geralmente requer bastante tempo.
TÉCNICAS COMPLEMENTARES
Segundo Cardella (2009), técnicas de controle de andamento de projetos são utilizadas para acompanhar a implantação das medidas corretivas.
FORMULÁRIO
A lista de verificação, ponto chave deste método de análise, deve ser elaborada com muito discernimento e cautela. Sua composição inclui campos para o registro dos itens a serem verificados bem como os resultados desta verificação. A seguir, apresentamos um formulário exemplo para verificação de um automóvel antes de uma viagem.
QUADRO 7 – EXEMPLO DE UMA LISTA DE CHECKLIST
Conteúdo escrito por:
Prof. Léo Roberto Seidel
FONTE: Disponível em: <http://www.eps.ufsc.br/disserta96/anete/cap4/cap4_ane.htm>. Acesso em: 8 jul. 2010.
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