O ambiente de trabalho exerce grande influência sobre a qualidade de vida do trabalhador. Aspectos como iluminação, temperatura e nível de ruído precisam ser controlados a fim de não trazer consequências nocivas à saúde. Neste capítulo, abordaremos os fatores que influenciam o ambiente de trabalho e os métodos utilizados para verificar se as condições apresentadas pelo ambiente de trabalho estão de acordo com a legislação vigente.
LIVRO-TÉCNICO EM SEGURANÇA DO TRABALHO - PABLO ROJAS
O trabalhador se expõe diariamente por longas horas às condições do ambiente de seu local de trabalho e é constante- mente atingido pelos efeitos gerados pelo processo produtivo, pois interage de modo direto com as tecnologias e os recursos utilizados para produzir. Por esse motivo, a busca por um ambiente de trabalho adequado às atividades realizadas pelos trabalhadores deve ser o objetivo de todas as empresas.
As empresas precisam produzir com qualidade e eficiência para cumprir seu papel na atual economia globalizada, em que a enorme competitividade tem dificultado cada vez mais a obtenção de resultados que garantam o retorno do capital investido. A legislação do Brasil tem acompanhado esse cenário e orientado as empresas para a busca da sustentabilidade, mas ainda existe muito a ser feito. É necessário que a mentalidade empresarial passe por mudanças que beneficiem o ambiente do trabalho e possibilitem avaliações, correções, controle e ações preventivas intensas em benefício da saúde do trabalhador, conceitos já implícitos na legislação.
Considerando a influência do meio ambiente na saúde e na segurança do trabalho, os profissionais dessa área devem aprimorar constantemente seus conhecimentos para atuar com eficiência. O conhecimento da legislação do trabalho e do meio ambiente proporciona a esse profissional condições de realizar seu trabalho e propor soluções para as situações nas quais há risco para o trabalhador.
A NR 25 atribuiu aos profissionais de saúde e segurança do trabalho grandes responsabilidades quanto ao destino dos resíduos industriais e ao contato do trabalhador com esses resíduos, sejam eles sólidos, líquidos ou gasosos. Ela complementou os preceitos contidos nas NRs 7 e 9, que buscam minimizar os efeitos causados pelos riscos ambientais na atividade laboral (BRASIL, 1978a).
Na interpretação atual, o ambiente de trabalho estende-se para além das paredes da fábrica, e engloba o meio ambiente do local em que o trabalhador reside e convive com sua família e com a sociedade.
O meio ambiente
A Organização das Nações Unidas (ONU) considera que o meio ambiente é formado pelo “[...] conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas.” (ORGANIZA- ÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1972). Por representar quase todos os países e povos do planeta e saber que a maioria da população mundial vive em regiões urbanas, a ONU faz de sua definição uma espécie de alerta sobre os problemas gerados pela degradação do meio ambiental.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 refere-se ao meio ambiente no seu Capítulo VI - Do meio Ambiente, artigo 225. "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações." (BRASIL, 1988b).
O Brasil possui um Programa Nacional do Meio Ambiente (PNMA), e muitas ações são feitas por meio dele em benefício da sociedade. A lei ambiental brasileira é abrangente e as contempla temas como:
meio ambiente e sustentabilidade, que busca a harmonia entre o meio ambiente e as pessoas, fornecendo informações, educação e esclarecimentos sobre os aspectos e as responsabilidades da sociedade com a vida no planeta;
meio ambiente e reciclagem, que trata da importância da reciclagem do lixo para a sustentabilidade e a preservação de recursos naturais, evitando que materiais reaproveitáveis sejam descartados;
meio ambiente e sociologia, que oferece a oportunidade de conhecimento do que afeta o indivíduo e do que o indivíduo é na sociedade em que vive, proporcionando mudanças de formas de pensar e adequação às necessidades coletivas.
Todas as ações que envolvem relações entre o homem e suas atividades econômicas e sociais são realizadas no meio ambiente em que ele e sua família vivem e, portanto, afetam a ecologia.
O ambiente de trabalho
O homem passa boa parte de sua vida trabalhando, geralmente exposto às condições do meio ambiente. Tais condições muitas vezes exigem intervenções para que as consequências dessa exposição sejam as menores possíveis. A legislação trabalhista trata dessa questão, e algumas condições ambientais são reguladas por meio de leis, portarias, normas regulamentadoras e critérios técnicos.
O meio ambiente onde é realizado o trabalho, uma preocupação constante das empresas e dos profissionais de saúde e segurança do trabalho, é monitorado pelas condições ambientais descritas a seguir.
Iluminação
Iluminação é o nível de radiação detectada pelo olho. A iluminação deve ser adequada às necessidades das tarefas desenvolvidas no ambiente e proporcionar conforto ao trabalhador, permitindo que ele execute suas funções com qualidade e baixo risco de acidentes.
A iluminação pode ser:
natural, obtida pela luz solar por meio de vidraças, portas, janelas e telhas transparentes ou translúcidas ou elementos estruturais criados na construção do edifício
artificial, obtida pelo uso de lâmpadas elétricas (fluorescentes, incandescentes, de vapor metálico, leds) ou por equipamentos acionados por combustíveis (gás, querosene). A iluminação artificial pode ser de caráter geral (ilumina todo o ambiente) ou de caráter suplementar (dedicada exclusivamente ao posto de trabalho).
Trocas térmicas
A temperatura do ambiente de trabalho é influenciada por diversos fatores, como o calor gerado por equipamentos, pelo clima e pelo corpo humano. A exposição ao calor ou à baixa temperatura afeta significativamente a capacidade laboral do trabalhador, e os fatores que contribuem para a troca de calor entre o ambiente de trabalho e o corpo são descritos a seguir.
Temperatura do ar: Sua influência pode ser avaliada pela observação da variação entre a temperatura do ambiente e a da pele do trabalhador. A troca térmica ocorre por condução- -convecção.
Condução é a transferência de calor que ocorre quando dois corpos estáticos com diferentes temperaturas são co- locados em contato. O calor do corpo de maior temperatura se transfere para o de menor temperatura até ambos atingirem o equilíbrio térmico.
Convecção é a forma de transmissão do calor que ocorre principalmente nos fluidos (líquidos e gases). Diferente- mente da condução, onde o calor é transmitido de átomo a átomo sucessivamente, na convecção a propagação do calor se dá através do movimento do fluido envolvendo transporte de matéria.
Umidade relativa do ar: A troca térmica entre o organismo e o meio ambiente acontece pelo fenômeno físico da evaporação. Quando a umidade relativa do ar é elevada, ocorre menor perda de calor do corpo.
Velocidade do ar: Altera as trocas de calor entre o organismo, pois influencia a temperatura e a umidade relativa do ar. Em um ambiente com temperatura elevada, o ar em movimento em temperatura menor que a do corpo humano provoca o resfriamento do organismo, e o ar em temperatura superior provoca o seu aquecimento. A velocidade do ar aumenta a perda de calor por evaporação.
Quando o trabalhador está exposto a uma ou várias fontes de calor, ocorrem trocas térmicas entre o ambiente e o organismo (Figura 5.1). Para controlar a temperatura do local de trabalho, algumas medidas são recomendadas (Tabela 5.1)
O corpo humano produz calor conforme o esforço físico realizado. Quanto maior o esforço, maior a quantidade de calor produzido. Para estabelecer os níveis de trocas térmicas que ocorrem no ambiente de trabalho em virtude da temperatura do ar, da umidade do ar, da velocidade do ar, do calor radiante e do tipo de atividade, são utilizados métodos fisiológicos e métodos instrumentais.
Os métodos fisiológicos (empíricos) baseiam-se em estudos realizados com grupos de pessoas (grupos de controle). A partir da análise dos dados estatísticos obtidos, são construídos gráficos e tabelas que são utilizados como base para avaliação do problema. Já os métodos instrumentais são procedimentos que buscam um modelo físico/matemático que se assemelhe às condições a que estariam sujeitos os trabalhadores quando expostos aos fatores do ambiente que influenciam a sobrecarga térmica.
A seguir, são apresentados os índices comumente utilizados para estabelecer os níveis de trocas térmicas.
Temperatura efetiva
A temperatura efetiva (TE) é um método fisiológico e, para conhecê-la, é preciso estabelecer um padrão de referência. Por exemplo, as condições de temperatura do ar de 20 oC com umidade relativa de 100%, sem movimentação de ar (V = 0 m/s), correspondem a uma temperatura efetiva de 20 oC. Usando esse dado como padrão (obtido subjetivamente), é possível verificar outras temperaturas com umidades relativas diferentes que provoquem as mesmas sensações de calor que a temperatura efetiva de 20 oC. O índice de temperatura efetiva é adotado como parâmetro na determinação de conforto térmico (NR 17, item 17.5.2, alínea “b”) (BRASIL, 1978a).
O índice de temperatura efetiva foi inicialmente proposto em 1923 pela American Society of Heating and Ventilating Engineers (ASVHE). Concebido a princípio como um critério de avaliação de conforto térmico, esse método baseia-se no estudo das respostas de grandes conjuntos de pessoas que trabalham em ambientes com diferentes combinações de temperatura, umidade e movimentação de ar. A ideia fundamental do método é reunir, em um único índice, todas as condições climáticas que produzem uma mesma ação fisiológica.
Para obter o índice de temperatura efetiva, usa-se um gráfico ábaco, que permite calcular a temperatura que o ser humano realmente sente, conforme estabelece a NR 17 (BRASIL, 1978a). O gráfico ábaco é uma carta psicrométrica que representa graficamente as evoluções do ar úmido. Cada ponto da carta representa uma combinação de ar seco e vapor d’água.
Para fazer o cálculo, basta usar a temperatura de bulbo seco (TBS) e a temperatura de bulbo úmido (TBU) e traçar uma reta ligando os dois valores. Na intersecção da reta resultante com a curva da velocidade do ar, obtém-se a temperatura efetiva ou temperatura de sensação térmica (Figura 5.2)
Temperatura efetiva corrigida
A temperatura efetiva corrigida (TEC) é uma medida um pouco mais precisa que a TE, pois considera o calor radiante. Utiliza-se a temperatura de bulbo seco, temperatura de bulbo úmido, temperatura de globo (TG) e velocidade do ar.
Para o cálculo da temperatura efetiva corrigida, utiliza-se o ábaco da temperatura efetiva substituindo o valor de temperatura da ar pela temperatura de globo e a temperatura de bulbo úmido pelo seu valor corrigido.
Cálculo da temperatura efetiva corrigida
a) Em uma carta psicrométrica, determine o valor da umidade relativa do ar (UR) utilizando o valor de TBS e TBU.
b) Mantenha a UR constante e entre com o novo valor de temperatura do ar dado pela TG, para obter o valor corrigido do termômetro de bulbo úmido natural (TBN), que deverá, então, ser utilizado no ábaco de temperatura efetiva.
c) Com os valores de TG, TBU corrigida e velocidade do ar, determine a temperatura efetiva corrigida.
Exemplo de cálculo da temperatura efetiva corrigida*
a) Incluindo na carta psicrométrica os valores (TBS = 90 °F, TBU = 72 °F), obtém-se a UR, que é de 40%. Mantendo constante o valor da UR e incluindo o valor de TG (no lugar de TBS), obtém-se o valor da TBU corrigida.
UR = 40% TG = 107 °F => TBU corrigida = 840 °F
b) Entrando com o valor de TG e TBU corrigida no ábaco de temperatura efetiva, obtém-se a temperatura efetiva corrigida.
TG = 107 °F TBU corrigida = 840 °F => TEC = 89 °F
*Exemplo criado a partir dos seguintes dados iniciais: TBS, 90 °F; TBU, 72 °F; V, 200 pés/min; TG, 107 °F.
Os parâmetros de comparação para temperatura efetiva e efetiva corrigida descritos a seguir são estabelecidos pela NR 17 (BRASIL, 1978a) para efeito de conforto térmico.
Índice de sobrecarga térmica (IST): O critério mais utilizado para cálculo é o de Belding e Hatch, desenvolvido em 1955 para determinar o nível de estresse térmico ao qual uma pessoa está exposta. O índice considera as condições ambientais e as características da atividade exercida pelo trabalhador.
O IST é obtido pela seguinte fórmula:
IST = (E req /E max) x 100
Onde E req é a evaporação requerida para recuperar o equilíbrio térmico, ou seja, a quantidade de calor que o organismo necessita dissipar por evaporação (Tabela 5.2), e E max é a quantidade máxima que o organismo pode dissipar por evaporação quando o corpo está completamente molhado e à temperatura de 35 °C.
Um índice de IST igual a 100 indica a sobrecarga térmica máxima permissível diariamente para homens jovens, adaptados e aclimatados ao trabalho. Um índice de IST superior a 100 indica que existe desequilíbrio no balanço térmico que ocasiona sudorese em excesso. Neste caso o trabalhador não pode ficar exposto ao calor durante 8 horas diárias de trabalho, pois sofrerá efeitos adversos à saúde.
Temperatura de globo úmido (TGU): É obtida com o termômetro de globo úmido (botsball), que permite obter o ISC com uma única leitura feita diretamente na escala do mostrador cinco minutos após a estabilização. É excelente para a avaliação do calor intenso. A leitura obtida deve ser comparada com os limites máximos a que pode estar exposto um trabalhador em função com diferentes regimes de trabalho e tipos de atividade.
Índice de bulbo úmido – termômetro de globo (IBUTG): Permite o cálculo de períodos adequados de trabalho e descanso de acordo com os limites estabelecidos na legislação. O cálculo é feito considerando se o ambiente de trabalho é interno ou externo e se possui ou não incidência de carga solar no momento da medição. Esse método elimina o problema de obter velocidades médias do ar.
Ruídos e vibrações sonoras
Um som indesejável é geralmente chamado ruído. As vibrações sonoras compõem o som que se ouve na faixa de frequência de 20 a 20.000 Hz. Fora dessa faixa, nossos ouvidos não conseguem perceber o som. As frequências mais elevadas são mais perigosas do que as mais baixas.
No ambiente de trabalho são considerados e medidos os seguintes tipos de ruídos:
ruído intermitente (ruído constante que começa e para alternadamente);
ruído flutuante (varia em largas proporções, mas possui um valor médio constante em um longo período);
ruído impulsivo (dura menos que um segundo em intervalos superiores a um segundo);
ruído de fundo (deve ser pelo menos 10 dB inferior ao ruído emitido pela fonte estudada para que a medição seja correta, sendo, neste caso, a precisão da ordem de 0,5 dB).
A seguir são descritos os aspectos considerados na medição dos ruídos provenientes de uma única fonte.
Campo próximo: A medição é feita muito próxima da fonte sonora. O nível de poluição sonora (NPS) pode variar significativamente com algum deslocamento do ponto de medição. Neste caso, o afastamento do ponto de medição é inferior ao comprimento de onda da frequência mais baixa emitida pela fonte ou inferior a duas vezes a maior dimensão da fonte sonora.
Campo reverberante: A medição realizada a uma distância considerada da fonte pode captar e medir os ecos do ruído das paredes e outros elementos presentes no ambiente e tornar a medição impossível ou incorreta.
Campo livre: Distância entre o campo reverberante e o campo próximo, onde o NPS diminui de 5 a 6 dB com o dobro da distância à fonte. Essa zona é a indicada para fazer as medições.
A soma dos níveis sonoros iguais emitidos por várias fontes pode ser obtida com a aplicação da fórmula:
L total = L + 10 log n
Onde L é o nível sonoro de uma fonte sonora e n é o número de fontes sonoras com o mesmo nível sonoro. Log é o logaritmo de n na base 10. O ambiente de trabalho e sua influência sobre a saúde sempre deve ser considerado um fator importante para a qualidade de vida do trabalhador, pois também provoca alterações psicológicas e comportamentais. Essas alterações podem não ser visíveis, mas existem e devem ser prevenidas.
Agora é a sua vez!
Compare os dados anteriormente apurados em um PPRA e em um PCMSO com a situação existente no ambiente de trabalho de uma empresa adotando os seguintes procedimentos:
Obtenha cópias do PPRA e do PCMSO.
Leia os documentos e verifique como foram calculados e estabelecidos os índices de tolerância e as recomendações feitas.
Dirija-se ao ambiente de trabalho e confirme as informações do documento com as condições ambientais existentes.
Para dirimir dúvidas entre os documentos e a realidade constatada, faça as medições e os cálculos necessários.
Havendo divergências, entre em contato com os responsáveis pela área de SST e apresente os resultados que obteve.
Material de ajuda, use a bondade.
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