É o perigo a que determinado indivíduo está exposto ao manipular produtos químicos que podem causar-lhe danos físicos ou prejudicar-lhe a saúde. Os danos físicos relacionados à exposição química incluem desde irritação na pele e olhos, passando por queimaduras leves, indo até aqueles de maior severidade, causados por incêndio ou explosão. Os danos à saúde podem advir de exposição de curta e/ou longa duração, relacionadas ao contato de produtos químicos tóxicos com a pele e olhos, bem como a inalação de seus vapores, resultando em doenças respiratórias crônicas, doenças do sistema nervoso, doenças nos rins e fígado e até mesmo alguns tipos de câncer. (FIOCRUZ, 2009)
Consideram-se agentes de risco químico as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo do trabalhador pela natureza da atividade e exposição.
Fischer, Gomes e Colacioppo (1989, p. 83) enfatizam que:
Para realizar o reconhecimento de um risco químico em um determinado ambiente de trabalho ou função, o profissional deve estar bem preparado para enfrentar vários tipos de problemas nesta que é a fase fundamental de seu trabalho, pois um reconhecimento mal realizado poderá comprometer todo o conjunto de atividades e redundando finalmente em risco à saúde do trabalhador exposto.
Os produtos químicos podem entrar em contato com nosso corpo de três maneiras diferentes:
• inalação;
• absorção cutânea;
• ingestão.
No Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde (2001), encontramos o seguinte conteúdo sobre as entrada no organismo de agentes químicos e poeiras.
É importante considerar que, nos ambientes de trabalho, a via respiratória é a mais importante. É influenciada pelo modo de respirar do trabalhador, se pelo nariz ou pela boca e pelo tipo de atividade, uma vez que o trabalho mais pesado requer maior ventilação pulmonar. Em repouso, uma pessoa respira, em média de cinco a seis litros por minuto e, ao realizar trabalho muito pesado, passará a respirar de 30 a 50 litros por minuto. No caso das poeiras, o mecanismo de filtros existente no nariz é importante, podendo ocorrer uma diferença apreciável entre a quantidade de poeira inalada e depositada em diferentes regiões do aparelho respiratório, dependendo do tipo de respiração, se nasal ou oral. A respiração pela boca aumenta o depósito de poeira respirável na região alveolar, em relação à respiração pelo nariz. O grau de atividade física também tem grande influência, aumentando sensivelmente o depósito de poeira em todas as regiões do aparelho respiratório. Algumas substâncias podem ser absorvidas através da pele intacta e passar à corrente sanguínea, contribuindo significativamente para a absorção total de um agente tóxico. Características das substâncias químicas que influenciam a absorção através da pele incluem a solubilidade (maior solubilidade em lipídios, maior absorção) e o peso molecular (quanto maior, menor a absorção). Outros fatores que influenciam a absorção incluem o tipo de pele, que varia de pessoa para pessoa e também de uma parte do corpo para outra; a condição da pele, como a existência de doenças de pele, tipo eczemas e fissuras; a exposição prévia aos solventes e o trabalho físico pesado, que estimula a circulação periférica de sangue. É importante investigar, entre os agentes potenciais de exposição, quais têm a propriedade de ser absorvidos através da pele. Mesmo produtos químicos em forma de grânulos ou escamas podem oferecer tal risco, se houver contato direto com a pele e se forem solúveis no suor, como, por exemplo, o pentaclorofenol. Essa situação é agravada em locais de trabalho quentes. A possibilidade de absorção através da pele modifica os procedimentos referentes à avaliação quantitativa da exposição por simples amostragem/análise do ar, que não será suficiente para avaliar a exposição total. Também o controle, por meio da proteção respiratória, não será suficiente para proteger o trabalhador, que deverá incorporar práticas de trabalho adequadas, evitando contato com a pele e respingos nas roupas e instituir rigorosa higiene pessoal. Apesar de a via digestiva ser a menos importante porta de entrada, em situações ocupacionais essa possibilidade deve ser investigada e eliminada por meio do estabelecimento de práticas de trabalho e de higiene adequadas. O nível de atividade física exigido tem importância fundamental, também, nos casos de sobrecarga térmica pois, quanto mais intensa, maior será a produção de calor metabólico que deve ser dissipado.
FONTE: MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL. Organizado por DIAS, colaboradores MUNIZ et al. DOENÇAS RELACIONADAS AO TRABALHO Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde. Brasília 2001 EDITORA MS
Os efeitos gerados a partir de contatos com substâncias tóxicas estão relacionados com o grau de toxicidade destas e o tempo de exposição ou dose.
Em todo o mundo, a indústria química é uma das que apresentam maior taxa de crescimento, e também a maior responsável pela dispersão de substâncias tóxicas no meio ambiente. Algumas razões para esse crescimento são a solicitação de novos produtos pelas indústrias em geral, inclusive pela própria indústria química. A produção de medicamentos, fertilizantes e inseticidas mais eficientes e baratos, pesquisa de novas matérias-primas, em qualquer ramo de atividade, pertence a um setor da economia altamente competitivo.
CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO A NATUREZA QUÍMICA
Os produtos químicos recebem uma classificação para facilitar seu estudo, que pode ser segundo sua ação no organismo (ver item a seguir), óleos e graxas, metais e metaloides, poeiras minerais (vamos conhecer a asbestose e a silicose) e os solventes (Aromáticos e halogenados).
Óleos e Graxas
O contato prolongado com óleos e graxas causa uma lesão de pele conhecida como elaioconiose. Essa moléstia acomete frequentemente os trabalhadores mecânicos e metalúrgicos, e é de tratamento prolongado, exigindo longos afastamentos do trabalho para a cura completa.
Na elaioconiose, a pele apresenta vários pequenos pontos com pus e perda de pelos nas regiões afetadas, em geral coxas e os antebraços. A medida preventiva ideal é a boa higiene corporal após o trabalho, e o uso de avental de plástico que impeça o borrifo de óleo nas roupas do trabalhador.
Os óleos e graxas também podem causar câncer de pele, pelo contato repetido por muitos anos. O maior perigo, ponto de vista cancerígeno, são os óleos de corte ou os solúveis, pois contêm nitrosaminas, que são potentes cancerígenos.
Metais e metaloides
Os principais metais do ponto de vista da toxicologia industrial são o chumbo, o mercúrio, o manganês, o cádmio e os metaloides, como o arsênico e o fósforo. (ver metais pesados, detalhados mais adiante).
Poeiras minerais
As poeiras minerais são causadoras de graves doenças pulmonares crônicas, denominadas pneumoconioses. As principais pneumoconioses são a silicose e a asbestose.
a) Silicose
A exposição prolongada (durante alguns anos) à poeira de sílica, livre e cristalina, em pequenas partículas (1 a 10), gerada em processos industriais, como em jateamento de areia, em lixamento de peças de cerâmica, na britagem de pedras, no trabalho com tijolos refratários, no corte e polimento de granito na mineração etc, pode causar a silicose.
O acúmulo da poeira de sílica livre e cristalina no pulmão provoca uma reação do organismo a essas partículas, e, como consequência, leva a uma fibrose pulmonar (como cicatrizes internas), a qual diminui a capacidade de trocas gasosas do pulmão.
A fibrose é irreversível e, mesmo se afastarmos o trabalhador acometido de silicose, esta continua progredindo e culminando na morte por insuficiência respiratória.
O controle médico faz-se por radiografias (não abreugrafias) de tórax, e se aparecer um mínimo sinal de fibrose, afasta-se imediatamente o trabalhador da exposição. Se o trabalhador for afastado em estágio muito inicial, a doença terá uma progressão muito lenta (dezenas de anos) e, portanto, poderá ele levar vida normal.
b) Asbestose
A longa exposição ocupacional ao amianto, ou asbesto, em pequenas partículas em forma de fibra, causa também uma fibrose pulmonar intensa e muito grave. A exposição pode ocorrer em trabalhos de mineração de amianto, fabricação de fibrocimento, baquelite, componentes elétricos, fiação de tecidos com amianto etc.
O quadro de asbestose é semelhante ao de silicose, quanto à fibrose pulmonar, mas com o agravante de ser frequente o aparecimento de câncer de pulmão nos indivíduos acometidos de asbestose.
Solventes aromáticos
Os solventes aromáticos são amplamente utilizados nas indústrias plásticas de borracha, química e petroquímica. Os mais difundidos são o benzeno, o tolueno e o xileno.
Todos causam, mediante exposição maciça, a grandes quantidades, sonolência, torpor, coma, podendo causar a morte por parada respiratória; pois são narcóticos.
O mais comum em exposição profissional é a intoxicação crônica, e, neste caso, o benzeno é o mais perigoso, pois além da absorção normal pela via respiratória, é também facilmente absorvido através da pele, e causa anemia aplástica, também chamada de benzolismo, quadro gravíssimo de anemia, que leva à morte em 70% dos casos. O benzeno também pode causar, em alguns indivíduos, a leucemia (câncer do sangue) igualmente com alto índice de mortalidade. O controle médico é feito por exames de sangue periódicos, e avaliações frequentes de absorção de benzeno, por meio de análises de fenol urinário (metabolito do benzeno excretado). Mas o ideal mesmo é a eliminação completa da utilização do benzeno, substituindo-o por outros solventes menos perigosos.
O tolueno e o xileno não são absorvidos através da pele e são menos voláteis, o que diminui muito o risco de intoxicação. Quando esta ocorre, surgem alterações dos rins e do fígado. A exposição a ambos pode ser controlada facilmente pela análise de seus metabólitos urinários (ácido hipúrico e metil-hipúrico).
Solventes halogenados
São de grande utilização industrial principalmente no desengraxamento de peças em metalúrgicas; são também usados como solventes de tintas e vernizes, nos pesticidas, nas lavagens a seco em tinturarias etc.
Entre os halogenados, os mais utilizados são os solventes clorados, como o tetracloreto de carbono, o tricloroetileno, o tetracloroetileno, o tricloroetano etc. Estes, quando em exposição maior, também podem causar sonolência, torpor e até a morte, se a dose absorvida for muito alta (efeito anestésico geral).
A exposição ocupacional a estes solventes causa lesões no fígado e nos nervos periféricos, irritação pulmonar e, em alguns casos de solventes como tetracloreto de carbono,pode ocasionar o aparecimento de câncer de fígado.
O controle deve ser feito por meio de avaliação hepática e de exames periódicos e análises de metabólitos urinários dos solventes.
CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO A AÇÃO
Ainda em relação aos agentes químicos, existem alguns que não se encaixam na classificação de acordo com a natureza química, havendo necessidade de classificá-los segundo a ação, em:
• asfixiantes simples;
• asfixiantes químicos;
• gases e vapores irritantes;
• gases narcóticos.
METAIS PESADOS E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE HUMANA
O chumbo, o mercúrio, o cádmio, o cromo e o arsênio são metais que não existem naturalmente em nenhum organismo. Tampouco desempenham funções – nutricionais ou bioquímicas – em microorganismos, plantas ou animais. Ou seja, a presença destes metais em organismos vivos é prejudicial em qualquer concentração.
Têm um particular efeito danoso aos seres vivos por não serem biodegradáveis, e se acumularem no organismo e em diversas cadeias alimentares, incluindo as cadeias das quais os homens fazem parte, podem provocar sérias doenças como câncer, por exemplo.
Estes metais se ligam às paredes celulares, dificultando o transporte de nutrientes. Mesmo assim, o organismo também tem necessidade de pequenas quantidades de alguns desses metais. É o caso do cobre, que nos ajuda a absorver vitamina C. Em concentrações altas, porém, os mesmos metais são tóxicos.
Paracelsus afirmava que todas as substâncias são tóxicas; não há UMA que não seja veneno! A dose é que diferencia um veneno de um remédio.
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